Agostinho sobre aparições dos santos

Pois nós sabemos, com efeito, não por vagos rumores, mas por testemunhas dignas de fé, que o confessor Félix, cujo túmulo tu veneras piedosamente como santo asilo, deu não somente marcas de seus benefícios, mas até de sua presença, tendo aparecido aos olhos dos homens, por ocasião do cerco da cidade de Nola pelos bárbaros.

Esses fatos excepcionais acontecem, graças à permissão divina, e estão longe de entrar na ordem normalmente estabelecida para cada espécie de criatura. Pois pelo fato de a água ter-se tornado subitamente em vinho pela palavra do Senhor (Jo 2,9), não devemos concluir — dessa operação divina excepcional e até única — que a água tenha poder de operar por si mesma essa transformação pela propriedade natural de seus elementos. (...) Uns são os limites do poder humano, outras as marcas do poder divino. Uns são os fatos naturais, outros os miraculosos, ainda que Deus esteja presente na natureza, para a manter na existência, e a natureza tenha seu lugar inclusive nos milagres.

Portanto, é preciso não acreditar que todos os defuntos, sem exceção, possam intervir nos problemas dos vivos pelo fato de, em certas circunstâncias, os mártires terem conseguido curas ou prestado outros socorros. É preciso compreender, antes, que é por efeito do poder divino que os mártires intervêm em nossos interesses. Pois os mortos não possuem por sua própria natureza tal poder (O cuidado devido aos mortos, Cap. 16).