Gregório de Nissa sobre a encarnação do Verbo

Mas se perguntas como a divindade se mescla com a humanidade, é oportuno perguntar-te primeiramente o que é a união íntima da alma com a carne. E se tu ignoras o modo como a alma se une ao corpo, não penses de forma alguma que devas ser capaz de compreender o primeiro. Mas como no primeiro caso temos a convicção de que a alma é diversa do corpo, pelo fato de que a carne, uma vez separada da alma, é morta e sem atividade, sem que conheçamos o modo desta união, assim também no segundo caso reconhecemos que a natureza divina difere da natureza mortal e perecível no sentido de uma majestade mais eminente, sem, porém, que sejamos capazes de apreender o modo de mistura do divino com o humano.

Entretanto, que Deus tenha nascido em uma natureza de homem, não o duvidamos, graças aos milagres que são narrados; quanto, porém, ao como, renunciamos a compreendê-lo, porque é superior à capacidade dos nossos raciocínios. Com efeito, embora acreditemos que toda a criação corporal e inteligível subsiste por obra da natureza incorpórea e incriada, nem por isso examinamos juntamente com a fé nesses pontos a origem e o como. Mas, admitindo a realidade da criação, renunciamos a toda curiosidade indiscreta sobre o modo como o universo foi organizado, porque é uma questão inteiramente misteriosa e inexplicável (Grande Catequese, XI, 1-2).