Basílio de Cesareia sobre o Espírito Santo

O Espírito Santo também é um, e também pode ser anunciado separadamente. Por meio do Filho que é um, ele se religa ao Pai, que também é um, e por si completa a Trindade bem-aventurada, digna de todo louvor. Sua intimidade com o Pai e o Filho manifesta-se devidamente no fato de não estar classificado no meio da multidão das criaturas, e ser singularmente nomeado. Não é um pela reunião de muitas partes, mas é absolutamente um. Como o Pai é um e um é o Filho, assim também é um o Espírito Santo. Está, portanto, tão afastado da natureza criada quanto o que é um está longe do que é composto e múltiplo. Está tão intimamente unido ao Pai e ao Filho quanto a unidade à unidade.

Comprova a comunhão de natureza não somente tudo isso, mas ainda porque se diz provir ele de Deus. Não da mesma forma como todas as coisas são de Deus, mas enquanto ele procede de Deus; não por geração como o Filho, mas como Espírito da boca de Deus. A palavra "boca" aqui não significa absolutamente um membro do corpo, nem Espírito assinala um sopro que se perde; mas por esta "boca" entenda-se algo que seja digno de Deus, e Espírito designe uma essência viva, senhora da santificação. Certamente, daí se deduz intimidade, mas sua maneira de existir permanece inefável. Ele é denominado também "Espírito de Cristo" a este intimamente unido por natureza. Consequentemente, "quem não tem o Espírito de Cristo, não pertence a ele" (Rm 8,9). Por isso, somente o Espírito louva dignamente o Senhor, pois este afirma: "Ele me glorificará" (Jo 16,14), não como a criação, mas como Espírito de verdade, que manifesta claramente em si a verdade, e como Espírito de sabedoria que revela, em sua própria grandeza, o Cristo, Poder de Deus e Sabedoria de Deus. Como Paráclito, exprime em si a bondade do Paráclito que o enviou e na sua própria dignidade mostra a grandeza Daquele de quem procede

[...] Pois "ninguém conhece o Pai senão o Filho" (Mt 11,27), assim como "ninguém pode dizer: ‘Jesus é Senhor’ a não ser no Espírito Santo" (1Cor 12,3). Com efeito, não foi dito: "pelo Espírito", e sim "no Espírito". "Deus é Espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito, e verdade" (Jo 4,24). Conforme está escrito: "Em tua luz nós vemos a luz" (Sl 35,10), isto é, com a iluminação do Espírito, veremos "a luz verdadeira que, vindo ao mundo, ilumina todo homem" (Jo 1,9). Assim, em si ele mostra a glória do Unigênito, e aos verdadeiros adoradores ele concede o conhecimento de Deus. Ora, o caminho do conhecimento de Deus estende-se do Espírito que é um, pelo Filho que é um, até o Pai que é um, e vice-versa, a bondade natural e a santidade natural, e a dignidade real partem do Pai, pelo Filho, até o Espírito. Assim também confessamos as hipóstases, sem quebra da piedosa doutrina da monarquia (Tratado sobre o Espírito Santo, 18).