Basílio: a revelação do Espírito Santo

Examinemos agora quais as noções geralmente aceitas sobre o Espírito, as que coletamos das Escrituras e as que nos foram transmitidas pela tradição oral dos Padres. Em primeiro lugar, ao ouvir as denominações do Espírito, não se eleva a mente, não se ergue os pensamentos para a mais sublime natureza? Ele recebe os nomes de "Espírito de Deus", "o Espírito da verdade, que procede do Pai" (Jo 15,26), "Espírito reto", "Espírito principal" (Sl 50,12-14). Mas, Espírito Santo é especialmente seu nome próprio, pois ele é o ser mais incorpóreo, inteiramente imaterial e simples. Por esta razão, o próprio Senhor ensinou à samaritana que acreditava necessário adorar a Deus em determinado lugar, que o ser incorpóreo é incircunscrito, dizendo: "Deus é espírito" (Jo 4,24). Por isso, quem ouve falar em Espírito não deve imaginar uma natureza circunscrita, ou sujeita a mudança e alteração, em tudo semelhante a uma criatura. Mas, quem eleva o pensamento ao ser mais sublime, necessariamente terá em mente uma substância inteligente, de poder infinito, grandeza ilimitada, fora do tempo e dos séculos, em nada ciosa de seus próprios bens. Para ele voltam-se todos os que anseiam pela santificação, para ele se dirigem os anelos dos que vivem segundo a virtude, quantos recebem o refrigério de seu sopro, e são amparados para alcançar o fim adequado a sua natureza. Aperfeiçoa os outros, enquanto ele mesmo de nada carece. Não é um ser vivo que precise se refazer; ao contrário é provedor (choregón) de vida. Não aumenta progressivamente, mas logo possui a plenitude; é consistente por si mesmo, está em toda a parte. Origem da santificação, luz inteligível, concede por si mesmo certa iluminação a toda faculdade racional, a fim de que descubra a verdade. Inacessível por natureza, faz-se, contudo, inteligível, por bondade. Seu poder enche todas as coisas, mas somente se comunica aos que são dignos, não, porém, numa só medida, mas opera proporcionalmente à fé. Simples por essência, seu poder, contudo, se manifesta em milagres variados (Hb 2,4). Está presente todo inteiro a cada ser, embora todo inteiro em toda parte. Impassível na partilha, indefectível na comunicação, à semelhança do raio solar, que agracia, como se fosse o único, àquele ao qual está presente, enquanto ilumina a terra, o mar, infiltrando-se também no ar. De igual modo, o Espírito está presente, como se fosse o único, a cada um dos que são capazes de acolhê-lo; permanece intacto e comunica graça suficiente para todos. Os participantes da graça do Espírito dela usufruem quanto é possível a sua natureza, não, porém, à medida que ele pode transmiti-la (Tratado sobre o Espírito Santo, 8).