Esses dois aspectos da fé, ou melhor — as duas dimensões, nunca poderiam ser separadas uma da outra. Universitas e antiquitas, assim como consensio, pertencem uns aos outros. E nenhum era um critério adequado em si. Antiguidade em si não é uma garantia suficiente de verdade, a menos que um consenso compreensivo dos "antigos" possa ser demonstrado satisfatoriamente. E um consenso como tal não seria conclusivo, a menos que ele pudesse ser rastreado continuamente até as origens apostólicas. Porém, São Vicente sugeriu que a verdadeira fé poderia ser reconhecida por um duplo recurso—Escritura e Tradição: duplici modo... primum scilicet divinae legis auctoritate, tum deinde ecclesiae catholicae traditione [De dois modos...primeiro claramente pela autoridade das Santas Escrituras, então pela tradição de Igreja Católica]. Isso, todavia, não implicava que existissem duas fontes de doutrina Cristã. Na verdade, a regra, ou cânon, das Escrituras era "perfeito" e "auto-suficiente" — ad omnia satis superque sufficiat [para todas as coisas completa e mais do que suficiente]. Então porque deveria ser suplementada por qualquer outra "autoridade"? Porque seria então imperativo invocar também a autoridade do "entendimento eclesiástico" — ecclesiasticae intelligentiae auctoritas? A razão era óbvia: as Escrituras eram interpretadas diferentemente pelos indivíduos: ut paene quot hominess tot illinc sententiae erui posse videantur [Então alguém pode ter quase a impressão de que elas podem produzir tantos significados diferentes, quantos são os homens]. A essa variedade de opiniões "privadas" São Vicente opunha a mente "comum" da Igreja, a mente da Igreja Católica: ut propheticae e apostolicae interpretationis línea secundum ecclesiastici et catholici sensus normam dirigatur [Que a tendência das interpretações dos escritos proféticos e apostólicos seja dirigida de acordo com a regra do significado eclesiástico e Católico]. A tradição não era, de acordo com São Vicente, uma instância independente, nem era uma fonte complementar da fé. "Entendimento eclesiástico" não poderia acrescentar nada às Escrituras. Mas ele era o único meio de descobrir e assegurar o verdadeiro significado das Escrituras. A Tradição era, de fato, a interpretação autêntica das Escrituras. E nesse sentido, ela era co-extensiva com as Escrituras. A Tradição era, na verdade, "As Escrituras entendidas corretamente". E as Escrituras eram para São Vicente o único, primário e definitivo cânon da verdade Cristã [Commonitorium, cap.II, conferir com Cap. 28] (A função da tradição na Igreja antiga).