Havia um ano, ou pouco mais, que Justina, mãe do imperador Valentiniano, ainda menor, seduzida pelos arianos, perseguia, por causa de sua heresia, teu servo Ambrósio. O povo fiel passava as noites na igreja, disposto a morrer com seu bispo. (...) Foi também nessa época que revelaste em sonho ao bispo Ambrósio o lugar em que jaziam ocultos os corpos dos mártires Gervásio e Protásio, que durante tanto tempo conservastes intactos no tesouro dos teus segredos, a fim de revelá-los no momento oportuno para refrear o furor de uma mulher, embora imperatriz.
Com efeito, depois de descobertos e desenterrados, ao serem transladados com as honras convenientes para basílica ambrosiana, alguns possessos atormentados pelos espíritos imundos, foram curados, conforme confissão dos próprios demônios. Também um cidadão, cego havia muitos anos, e muito conhecido na cidade, perguntou a razão daquele alvoroço e alegria populares; informado, pediu a seu guia que o levasse até às relíquias. Lá chegando, obteve permissão para tocar com um lenço o ataúde de teus santos, cuja morte havia sido preciosa a teus olhos (Sl 115:15). Feito isto, aplicou o lenço aos olhos, que imediatamente se abriram.
A notícia do milagre logo se propagou, e imediatamente se ouviram teus louvores com fervor, e o coração de tua inimiga, sem se converter à fé, reprimiu contudo o furor da perseguição. Graças te dou, meu Deus! (Confissões, Livro Nono, VII)