Sócrates Escolástico sobre o celibato clerical

Como prometemos acima fazer alguma menção de Pafnútio (...), [ele era] então Bispo de uma das cidades de Tebas: ele era um homem tão favorecido por Deus que milagres extraordinários foram feitos por ele. No tempo da perseguição, ele tinha sido privado de um dos olhos. O Imperador muito o honrou, e muitas vezes mandou chamá-lo ao palácio, e beijou a parte onde o olho tinha sido arrancado. Tão grande devoção caracterizava o Imperador Constantino. Que este único fato a respeito de Pafnútio seja suficiente: explicarei outra coisa que ocorreu em consequência de seu conselho, para o bem da Igreja e honra do clero. Parecia bom aos Bispos introduzir uma nova lei na Igreja, que todos que estivessem nas sagradas ordens - falo dos Bispos, presbíteros e diáconos - não tivessem relações conjugais com as esposas com as quais se casaram enquanto leigos. Ora, enquanto a discussão dessa matéria estava pendente, tendo Pafnútio entrado na assembléia dos Bispos, fervorosamente suplicou-lhes que não impusessem jugo tão pesado sobre os ministros da religião, afirmando que "o casamento e o leito sem mácula devem ser honrados entre todos" (Hb 13:14), pedindo a Deus que não ferissem a Igreja por restrições muito rigorosas. "Pois nem todos", disse ele, "podem suportar a prática da continência rígida, nem talvez seria preservada a castidade da esposa de cada um", ele chamou de "castidade" a relação de um homem com sua esposa legítima. Seria suficiente, pensou ele, que aqueles que já entraram no chamado sagrado renunciem ao matrimônio, de acordo com a antiga tradição da Igreja; mas que ninguém fosse separado da esposa com quem uniu-se antes da ordenação. E esses sentimentos expressou, apesar de ele mesmo desconhecer a experiência do casamento, e, para falar francamente, sem nunca ter conhecido uma mulher. Pois desde menino havia sido criado em um mosteiro, e era especialmente conhecido por todos por sua castidade. Toda a assembléia do clero concordou com o raciocínio de Pafnútio, e por isso silenciaram todo debate sobre essa questão, deixando ao critério dos maridos se quisessem exercer a abstinência com suas esposas (História Eclesiástica, I, 11)