Se não houvesse unidade [em Deus] - nem o Verbo nascido da essência do Pai, como esplendor da luz - mas o Filho fosse dividido do Pai em natureza, seria então suficiente que o Pai somente fosse doador, uma vez que nada de criado é parceiro com o Criador em seus dons; mas, assim, esse modo de doar demonstra a unidade do Pai e do Filho. Ninguém, por exemplo, iria orar para receber de Deus e dos Anjos, ou de qualquer outra criatura, nem diria: 'Que Deus e o Anjo concedam-lhe', mas do Pai e do Filho, por causa de sua unidade e da unidade de sua doação. Pois através do Filho é concedido o dom; e nada há que o Pai não opere pelo Filho; pois assim é a graça segura para aquele que recebe. Se o patriarca Jacó, abençoando seus netos Efraim e Manassés, disse: 'Deus, que me alimentou por toda minha vida, e o Anjo que me livrou de todo mal, abençoem os meninos', porém nenhum dos Anjos criados e naturais ele juntou a Deus seu Criador, nem rejeitando Deus que o alimentou ele pediu bênçãos de um Anjo sobre seus netos; mas, ao dizer 'que me livrou de todo mal', ele demonstrou que não se tratava de um Anjo criado, mas do Verbo de Deus, o qual ele juntou ao Pai em sua oração, por quem Deus livra todo aquele que deseja. Conhecendo que Ele [o Verbo] também é chamado 'Anjo do grande conselho', afirmou que ninguém mais é Doador de bênçãos e Libertador do mal.
[...] Portanto, nenhum outro além de Deus foi buscado por Davi com respeito a seu livramento: 'Quando estava em tribulação, invoquei o Senhor, e Ele me ouviu; livra minha alma, ó Senhor, dos lábios mentirosos e da língua enganosa'. [...] Se não pertence a mais ninguém além de Deus abençoar e livrar, e ninguém mais poderia livrar Jacó além de Deus e Aquele que o livra foi quem o patriarca buscou para seus netos, evidentemente ele não juntou nenhum outro a Deus em sua oração, além do Verbo de Deus (Discurso contra os arianos, III, 12-13).
