Lemos na História eclesiástica escrita em grego por Eusébio, e traduzida em latim por Rufino, o seguinte fato: Na Gália, os corpos dos mártires de Lião foram atirados aos cães. A carne e os ossos que sobraram foram reduzidos a cinzas até à última parcela, para serem finalmente atirados no rio Ródano, a fim de não ficar traço algum de sua memória. Ora, devemos pensar que se Deus permitiu essa destruição total, é para ensinar aos cristãos que ao confessar a Cristo, no desprezo desta vida, os mártires devem desprezar ainda mais a sepultura. Pois, se a abominável crueldade com que foram tratados aqueles corpos pudesse privar a alma vitoriosa do repouso bem-aventurado, Deus certamente não o teria permitido. Está bem claro o que o Senhor afirmou: "Não tenham medo dos que matam o corpo e depois disso nada mais podem fazer" (Lc 12,4). Isso não significa que os perseguidores perderiam todo poder sobre o corpo dos fiéis, após a morte, mas que embora tivessem esse poder, nada podiam para diminuir a felicidade de suas vítimas; nada poderia atingir a vida consciente deles além-túmulo; nada poderia trazer dano aos próprios corpos, pelo menos no que se refere à integridade da sua ressurreição (O cuidado devido aos mortos, Cap. 6).