Agostinho: Deus sempre amou a todos

O amor, portanto, pelo qual Deus ama, é incompreensível e imutável. Pois não foi desde o tempo em que fomos reconciliados com ele pelo sangue de seu Filho que ele começou a amar-nos; mas ele nos amou antes da fundação do mundo, para que nós também sejamos seus filhos juntamente com o Unigênito, antes que sequer tenhamos existido. Que o fato de termos sido reconciliados com Deus através da morte de seu Filho não seja entendido ou interpretado como se o Filho tivesse nos reconciliado neste aspecto, ou seja, que ele agora tenha começado a amar aqueles que antes odiava, no mesmo sentido em que inimigo é reconciliado com inimigo - de maneira que agora se tornam amigos, e o amor mútuo tome o lugar do ódio mútuo. Fomos reconciliados com ele que já nos amava, mas com quem éramos inimigos por causa do pecado. Se digo a verdade sobre isso, deixe o apóstolo testificar, quando diz: Mas Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores [Romanos 5:8]. Portanto, ele nos amava mesmo quando praticávamos inimizade contra ele e iniquidade; ainda assim, é dito com perfeita verdade: Tu detestas, ó Senhor, todos os que praticam o mal [Salmos 5:5]. Desse modo, de uma maneira incrível e divina, mesmo enquanto ele nos odiava, também nos amava; pois ele odiava-nos na medida em éramos diferentes daquilo que ele fez; e porque nossa própria iniquidade não tinha em toda parte consumido sua obra, ele sabia como odiar, em cada um, aquilo que nós fizemos, e amar aquilo que ele fez. E isso, de fato, pode ser entendido a respeito do que é dito: não odiais nada do que fizestes [Sabedoria 11:24] (Tratados sobre o Evangelho de João, 110, 6).