Gregório de Nissa sobre a morte

É esta a doutrina que nos apresenta Moisés como verdade histórica e sob o véu da alegoria. Só que as próprias alegorias contêm um ensinamento claríssimo. Com efeito, quando os primeiros homens, como é dito, caíram no proibido e foram privados daquela felicidade, o Senhor impôs-lhes túnicas de pele; mas o verdadeiro sentido do relato não me parece referir-se a peles comumente entendidas: de fato, de que espécie de animais mortos e esfolados se pensa que era esta vestimenta? Mas, visto que toda pele separada do animal é coisa morta, estou plenamente convencido de que a condição mortal, antes reservada à natureza irracional, tenha sido infligida aos homens por aquele que é o médico da nossa maldade, mas não para que permanecesse sempre: na realidade a vestimenta faz parte das coisas que nos envolvem por fora e ocasionalmente proporcionam proveito ao corpo, mas de modo algum é inerente à natureza. A condição mortal, portanto, por analogia com a natureza dos seres irracionais, foi conferida segundo o plano da providência à natureza criada para a imortalidade: envolve seu exterior, não seu interior; abarca a parte sensível do homem, mas sem tocar sequer a imagem divina (Grande Catequese, VIII, 4-5).