O que induziu o abençoado Evangelista entrar em tantos detalhes, de modo a mencionar as mulheres diante da cruz? Seu objetivo era nos ensinar, como parece, que o destino inesperado de nosso Senhor seria uma ofensa para Sua mãe. (...) Pois, sem dúvida alguma, tal linha de pensamento passou por sua mente: "Eu concebi Este que é escarnecido sobre a cruz. Ele disse, de fato, que Ele era o verdadeiro Filho do Pai Altíssimo, mas pode ser que Ele estivesse enganado; Ele pode ter errado quando disse: Eu sou a vida. Como chegou até Sua crucificação? Como foi preso nos laços desses homicidas? Como foi possível que Ele não prevalecesse sobre a conspiração dos perseguidores contra Ele? E por que Ele não desceu da cruz, embora tenha feito Lázaro reviver e causado espanto em toda a Judeia por Seus milagres?" A mulher, como é típico, não entendendo exatamente o mistério, vacilou em tal linha de pensamento; pois faremos bem de lembrar que o caráter de desses eventos foi tal de causar susto e vencer até a mente mais sóbria. E não admire-se que a mulher tenha caído em tal erro, quando até mesmo o próprio Pedro, o eleito dos santos discípulos, foi uma vez escandalizado (...). Que susto há, então, se a mente frágil de uma mulher foi também mergulhada em pensamentos que mostravam fraqueza? E quando falamos assim, não estamos chutando ao acaso, como alguns supõem, mas somos levados a suspeitar disso por causa do que está escrito a respeito da mãe de nosso Senhor. Pois lembramos que o justo Simeão, quando recebeu o pequeno Senhor em seus braços, depois de abençoá-Lo, (...) disse à própria Virgem santa: Eis que este é posto para queda e elevação de muitos em Israel, e para sinal que é contraditado (e uma espada traspassará também a tua própria alma); para que se manifestem os pensamentos de muitos corações" [Lucas 2:34-35]. Por "uma espada" ele quis dizer a pontada aguda de sofrimento que iria dividir a mente da mulher em pensamentos estranhos; porque as tentações provam os corações daqueles que são tentados, e os deixou vazios dos pensamentos que os encheram.
(...) Além disso, não estava o Senhor, eu digo, certo em pensar em Sua mãe, quando ela tinha caído em uma rocha de ofensa, e quando sua mente estava em uma tempestade de perplexidade? Pois, como Ele era verdadeiramente Deus, e olhou dentro dos movimentos de seu coração, e conheceu seus segredos, como poderia Ele falhar em saber seus pensamentos sobre a crucificação, os quais a haviam deixado em tanta aflição? Sabendo, portanto, o que se passava em seu coração, Ele a recomendou ao discípulo [João], o melhor dos guias, o qual era capaz de explicar totalmente e adequadamente o mistério profundo (Comentário ao Evangelho de João, Livro 12).