A respeito das palavras de Simeão a Maria não há obscuridade ou variedade de interpretação. "E Simeão os abençoou, e disse a Maria, sua mãe: Eis que este é posto para queda e elevação de muitos em Israel, e para sinal que é contraditado (e uma espada traspassará também a tua própria alma); para que se manifestem os pensamentos de muitos corações" [Lucas 2:34-35]. Aqui estou espantado que, após passar pelas palavras prévias como se não exigissem explicação, você pergunta a respeito da expressão: "uma espada traspassará também a tua própria alma". (...) Por "uma espada" é significado a palavra que testa e julga nossos pensamentos, que penetra até a divisão da alma e do espírito e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos. Ora, toda alma na hora da Paixão estava sujeita, por assim dizer, a um tipo de prova. De acordo com a palavra do Senhor é dito: "vos escandalizareis em mim" [Mateus 26:31]. Simeão, portanto, profetiza a respeito da própria Maria; que diante da cruz (vendo o que tinha acontecido e ouvindo as vozes), depois da testemunho de Gabriel e de seu conhecimento secreto da concepção divina, depois da grande exibição de milagres, ela sentirá em sua alma uma tempestade poderosa. Foi necessário que o Senhor provasse a morte por todos os homens, para tornar-se propiciação para o mundo e justificar a todos os homens por Seu próprio sangue. Até mesmo você [Maria], que havia sido ensinada do alto a respeito das coisas do Senhor, será alcançada por alguma dúvida. Essa é a espada. "Que os pensamentos de muitos sejam revelados". Ele indica que depois da ofensa da cruz de Cristo uma certa cura rápida virá do Senhor aos discípulos e à própria Maria, confirmando seus corações na fé Nele. Do mesmo modo vemos Pedro, depois de ter se ofendido, abraçando mais firmemente sua fé em Cristo. O que havia de humano nele foi provado doente, para que o poder do Senhor fosse demonstrado (Epístola 260).