Quanto às Escrituras canônicas, siga a autoridade da maioria das igrejas católicas, entre as quais, sem dúvida, se contam as que mereceram ser sede dos apóstolos e receber cartas deles.
Eis o método que se há de observar no discernimento das Escrituras canônicas: os livros que são aceitos por todas as igrejas católicas se anteponham aos que não são aceitos por algumas. Por outro lado, entre os livros que algumas igrejas não admitem, prefiram-se os que são aceitos pelas igrejas mais numerosas e importantes aos que são unicamente aceitos pelas igrejas menos numerosas e de menor autoridade. Enfim, no caso de alguns livros serem aceitos por muitas igrejas e outros pelas igrejas mais autorizadas, ainda que isso seja difícil, eu opino que se atribuam a ambas a mesma autoridade.
O cânon completo das Sagradas Escrituras, ao qual se referem as considerações precedentes, compreende os seguintes livros: os cinco de Moisés, a saber: o Gênesis, o Êxodo, o Levítico, os Números e o Deuteronômio; um livro de Jesus, filho de Nave (Josué) e um dos Juízes; um livrinho intitulado Rute, o qual parece pertencer ao começo da história dos Reis; seguem-se os quatro dos Reinos e dois dos Paralipômenos que não são a sua sequência, mas por assim dizer uma complementação. Todos esses livros são narração histórica que contêm o desenvolvimento das épocas e a ordem dos acontecimentos. Há outras histórias de tipo diferente que não possuem conexão com a ordem dos acontecimentos anteriores, nem se relacionam entre si, como os livros de Jó, de Tobias, de Ester, de Judite, os dois livros dos Macabeus e os dois de Esdras. Estes parecem seguir antes aquela história que ficara suspensa com os livros dos Reis e dos Paralipômenos. Depois, seguem os Profetas, entre os quais se encontra um livro de Davi, os Salmos, três de Salomão: os Provérbios, o Cântico dos cânticos e o Eclesiastes. Os outros dois livros dos quais um é a Sabedoria e o outro, o Eclesiástico, são atribuídos a Salomão por certa semelhança com os precedentes, mas comumente se assegura que quem os escreveu foi Jesus, filho de Sirac. E, como mereceram ser recebidos com autoridade (canônica), devem ser contados entre os livros proféticos. Os livros restantes são os propriamente chamados dos Profetas. Doze são esses livros, correspondendo cada qual a um profeta. Como estão conexos e nunca foram separados, são contados como um só livro. Eis o nome dos profetas: Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias. Em seguida, os quatro livros dos grandes profetas: Isaías, Jeremias, Daniel e Ezequiel.
Estes quarenta e quatro livros possuem autoridade no Antigo Testamento. Quanto ao Novo Testamento, compreende os quatro livros do Evangelho segundo são Mateus, são Marcos, são Lucas e são João; as quatorze cartas de são Paulo: uma aos Romanos, duas aos Coríntios, uma aos Gálatas, uma aos Efésios, uma aos Filipenses, duas aos Tessalonicenses, uma aos Colossenses, duas a Timóteo, uma a Tito, uma a Filêmon e uma aos Hebreus; as duas de são Pedro; as três de são João; o livro único dos Atos dos Apóstolos e outro único de são João intitulado Apocalipse (Da Doutrina Cristã, II, 8).