Justino sobre o sacrifício eucarístico

Eu dizia, senhores, que também a oblação de flor de farinha que, conforme a tradição [Lv. 14:10], é oferecida pelos que são purificados da lepra, era figura do pão da ação de graças em relação ao qual Jesus Cristo Nosso Senhor mandou fazer em memória da paixão que ele sofreu pelos que são purificados nas almas de toda maldade dos homens, para que rendêssemos graças a Deus por ter criado o universo com todas as coisas que nele existem através do homem e, ao mesmo tempo, por nos ter libertado do mal em que nascemos, e ter destruído fatalmente os principados e as potestades, através daquele que, segundo sua vontade, nasceu passível (...).

Já então ele [Malaquias] profetiza sobre os sacrifícios a ele oferecidos em todo lugar por nós gentios, isto é, do pão da ação de graças como também do cálice da ação de graças, dizendo que nós glorificaremos o seu nome, vós, porém o profanais.

(...) Pois bem, é manifesto que também nesta profecia [de Isaías] sobre o pão se trata do pão em relação ao qual o nosso Cristo nos mandou fazer em memória de se ter feito homem pelos que crêem nele, pelos quais também se tornou passível, e se trata também do cálice em relação ao qual mandou fazer com ação de graças em memória do seu sangue... [Nós] somos a verdadeira raça sacerdotal de Deus, como atesta o próprio Deus, dizendo haver em todo lugar entre os gentios quem lhe oferecesse sacrifícios agradáveis e puros. Ora, Deus não aceita sacrifícios de ninguém, a não ser através dos seus sacerdotes.

Portanto, já de antemão Deus atesta que através deste nome lhe são fundamentalmente agradáveis todos os sacrifícios que Jesus Cristo mandou que se fizessem, a saber, na ação de graças do pão e do cálice, realizados em todos os lugares da terra pelos cristãos; ao passo que repele os sacrifícios feitos por vós, os realizados por aqueles vossos sacerdotes, dizendo: 'E vossos sacrifícios não os receberei das vossas mãos; pois do levantar ao pôr-do-sol meu nome é glorificado', diz ele, 'entre os gentios, ao passo que vós o profanais' [Ml 1:11-12]. E até agora, procurando rivalidades, dizeis que Deus não aceita os sacrifícios oferecidos em Jerusalém pelos chamados israelitas que então aí habitavam, mas por outro lado dizeis que ele teria dito que as orações feitas pelos homens daquela linhagem que se encontravam na dispersão chegavam até ele e que ele chama de sacrifícios as suas orações. Ora, que as orações e as ações de graças feitas pelos justos são os únicos sacrifícios perfeitos e agradáveis a Deus também eu o afirmo. Pois somente estes também os cristãos os receberam para fazer, e isto, em comemoração do seu alimento seco e líquido, no qual eles recordam a paixão que por eles sofreu o Filho de Deus (Diálogo com o judeu Trifão, 41-117).