Grandemente, parece-me, você foi movido pela lição do Apóstolo [Paulo], tendo ouvido: 'Porque a lei opera a ira. Porque onde não há lei também não há transgressão' [Romanos 4:15]. Portanto, você entendeu correto perguntar por que a Lei foi promulgada, se de nada é proveitosa e, ao contrário, é injuriosa ao operar ira e trazer transgressão.
De fato, conforme sua questão levanta, é certo que a Lei, que foi promulgada por Moisés, não era necessária. Pois se os homens tivessem sido capazes de cumprir a lei natural, que nosso Deus e Criador implantou em nossos peitos, não haveria necessidade da Lei, a qual, escrita em tábuas de pedra, tendia mais para entrelaçar e acorrentar a fraqueza de nossa natureza do que para liberá-la e alargá-la. Agora, que existe uma lei natural escrita em nossos corações, isso o Apóstolo também ensina-nos, quando escreve que os gentios, não tendo lei, fazem por natureza as coisas contidas na Lei, e que, embora não tenham lido a Lei, possuem as obras da Lei escritas em seus corações [Romanos 2:14-15].
Portanto, essa lei não é escrita, mas inata; não é adquirida pela leitura, mas floresce como de uma fonte natural, cresce em cada coração, e as mentes dos homens bebem dela. Essa lei nós devemos guardar mesmo pelo medo de um futuro julgamento, cuja testemunha temos em nossa consciência que mostra-se naqueles pensamentos silenciosos diante de Deus, e pelos quais nosso pecado é reprovado ou nossa inocência justificada. E assim aquilo que sempre foi manifesto ao Senhor será claramente revelado no dia do julgamento, quando os segredos do coração, os quais pensava-se que podiam ser ocultos, serão chamados à prestação de contas. Ora, a descoberta dessas coisas - esses segredos, quero dizer - não faria mal, se a lei natural ainda permanecesse no coração humano; pois é santa, livre de enganação, companheira da justiça e sem iniquidade. [...]
Adão quebrou essa lei, buscando assumir para si algo que não tinha recebido [...]. Por sua desobediência incorreu em culpa, e pela arrogância caiu em transgressão. Se ele não tivesse violado seu compromisso, mas sido obediente aos comandos do céu, teria preservado para sua posteridade a prerrogativa da natureza e a inocência que possuía em seu nascimento. Assim que pela desobediência a autoridade da lei da natureza foi corrompida e expulsa, a Lei escrita foi necessária; para que o homem, tendo perdido tudo, pudesse pelo menos recuperar uma parte; encontrando pelo estudo o conhecimento daquilo que possuía, mas perdeu. E uma vez que a causa de sua queda fora o orgulho, e o orgulho nasceu da dignidade da inocência, era necessário que alguma Lei fosse promulgada que diminuísse e sujeitasse a Deus. Pois sem a Lei o homem era ignorante do pecado, e assim sua culpa era menor porque não a conhecia. Por isso também o Senhor diz: 'Se eu não viera, nem lhes houvera falado, não teriam pecado, mas agora não têm desculpa do seu pecado' [João 15:22].
Então, a Lei foi publicada, primeiramente para tirar toda desculpa, para que o homem não dissesse: não conheço o pecado, pois não recebi nenhuma regra pela qual evitá-lo. E, segundo, para que todo o mundo se tornasse culpado diante de Deus pela confissão do pecado. Pois ela tornou todos sujeitos; nisso foi dada não somente para os judeus, mas também chamou os gentios; pois prosélitos dos gentios era associados com eles. [...] E assim a falta de todos produziu sujeição, sujeição humildade, humildade obediência. Como o orgulho tinha produzida a transgressão, agora por outro lado, a transgressão produziu obediência. E a Lei escrita, que parecia supérflua, foi tornada necessária, redimindo o pecado pelo pecado.
Mas, novamente, antes que alguém se detenha, e diga que um aumento do pecado foi causado pela Lei, e que a Lei não apenas não trouxe proveito, como foi ainda injuriosa, ele tem um consolo para sua ansiedade, pois 'veio a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça' [Romanos 5:20]. Agora vamos investigar o sentido disso.
O pecado abundou pela Lei porque pela Lei vem o conhecimento do pecado, e assim tornou-se prejudicial para mim, isto é, conhecer aquilo que eu não poderia evitar (por minha fraqueza); é bom conhecer para evitar, mas conhecer é injurioso se não posso evitar. Desse modo, o efeito da Lei foi mudado para mim em seu oposto; entretanto, pelo próprio aumento do pecado, ela tornou-se útil para mim, pois fui humilhado. Por isso Davi diz: É bom para mim que eu tenha sido humilhado. Pois por minha humilhação quebrei as ligações daquela antiga transgressão, pela qual Adam e Eva ligaram toda a linha de sua posteridade. E assim, como pela desobediência o pecado entrou, pela obediência o pecado foi remitido. Por isso o Apóstolo também diz: 'Como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos' [Romanos 5:19]. [...]
Tendo a lei natureza sido excluída pela transgressão e quase expulsa do coração humano, o orgulho reinou e a desobediência espalhou-se; então veio essa Lei [de Moisés], para que por seus preceitos escritos fôssemos chamados, e 'toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus' [Romanos 3:19]. O mundo tornou-se sujeito a Ele pela Lei, porque todos foram levados ao julgamento pelas prescrições da Lei, e ninguém é justificado pelas obras da Lei; em outras palavras, porque o conhecimento do pecado vem da Lei, mas a culpa não é remida, a Lei, portanto, que fez todos os homens pecadores, parece ter lhes causado mal.
De fato, conforme sua questão levanta, é certo que a Lei, que foi promulgada por Moisés, não era necessária. Pois se os homens tivessem sido capazes de cumprir a lei natural, que nosso Deus e Criador implantou em nossos peitos, não haveria necessidade da Lei, a qual, escrita em tábuas de pedra, tendia mais para entrelaçar e acorrentar a fraqueza de nossa natureza do que para liberá-la e alargá-la. Agora, que existe uma lei natural escrita em nossos corações, isso o Apóstolo também ensina-nos, quando escreve que os gentios, não tendo lei, fazem por natureza as coisas contidas na Lei, e que, embora não tenham lido a Lei, possuem as obras da Lei escritas em seus corações [Romanos 2:14-15].
Portanto, essa lei não é escrita, mas inata; não é adquirida pela leitura, mas floresce como de uma fonte natural, cresce em cada coração, e as mentes dos homens bebem dela. Essa lei nós devemos guardar mesmo pelo medo de um futuro julgamento, cuja testemunha temos em nossa consciência que mostra-se naqueles pensamentos silenciosos diante de Deus, e pelos quais nosso pecado é reprovado ou nossa inocência justificada. E assim aquilo que sempre foi manifesto ao Senhor será claramente revelado no dia do julgamento, quando os segredos do coração, os quais pensava-se que podiam ser ocultos, serão chamados à prestação de contas. Ora, a descoberta dessas coisas - esses segredos, quero dizer - não faria mal, se a lei natural ainda permanecesse no coração humano; pois é santa, livre de enganação, companheira da justiça e sem iniquidade. [...]
Adão quebrou essa lei, buscando assumir para si algo que não tinha recebido [...]. Por sua desobediência incorreu em culpa, e pela arrogância caiu em transgressão. Se ele não tivesse violado seu compromisso, mas sido obediente aos comandos do céu, teria preservado para sua posteridade a prerrogativa da natureza e a inocência que possuía em seu nascimento. Assim que pela desobediência a autoridade da lei da natureza foi corrompida e expulsa, a Lei escrita foi necessária; para que o homem, tendo perdido tudo, pudesse pelo menos recuperar uma parte; encontrando pelo estudo o conhecimento daquilo que possuía, mas perdeu. E uma vez que a causa de sua queda fora o orgulho, e o orgulho nasceu da dignidade da inocência, era necessário que alguma Lei fosse promulgada que diminuísse e sujeitasse a Deus. Pois sem a Lei o homem era ignorante do pecado, e assim sua culpa era menor porque não a conhecia. Por isso também o Senhor diz: 'Se eu não viera, nem lhes houvera falado, não teriam pecado, mas agora não têm desculpa do seu pecado' [João 15:22].
Então, a Lei foi publicada, primeiramente para tirar toda desculpa, para que o homem não dissesse: não conheço o pecado, pois não recebi nenhuma regra pela qual evitá-lo. E, segundo, para que todo o mundo se tornasse culpado diante de Deus pela confissão do pecado. Pois ela tornou todos sujeitos; nisso foi dada não somente para os judeus, mas também chamou os gentios; pois prosélitos dos gentios era associados com eles. [...] E assim a falta de todos produziu sujeição, sujeição humildade, humildade obediência. Como o orgulho tinha produzida a transgressão, agora por outro lado, a transgressão produziu obediência. E a Lei escrita, que parecia supérflua, foi tornada necessária, redimindo o pecado pelo pecado.
Mas, novamente, antes que alguém se detenha, e diga que um aumento do pecado foi causado pela Lei, e que a Lei não apenas não trouxe proveito, como foi ainda injuriosa, ele tem um consolo para sua ansiedade, pois 'veio a lei para que a ofensa abundasse; mas, onde o pecado abundou, superabundou a graça' [Romanos 5:20]. Agora vamos investigar o sentido disso.
O pecado abundou pela Lei porque pela Lei vem o conhecimento do pecado, e assim tornou-se prejudicial para mim, isto é, conhecer aquilo que eu não poderia evitar (por minha fraqueza); é bom conhecer para evitar, mas conhecer é injurioso se não posso evitar. Desse modo, o efeito da Lei foi mudado para mim em seu oposto; entretanto, pelo próprio aumento do pecado, ela tornou-se útil para mim, pois fui humilhado. Por isso Davi diz: É bom para mim que eu tenha sido humilhado. Pois por minha humilhação quebrei as ligações daquela antiga transgressão, pela qual Adam e Eva ligaram toda a linha de sua posteridade. E assim, como pela desobediência o pecado entrou, pela obediência o pecado foi remitido. Por isso o Apóstolo também diz: 'Como pela desobediência de um só homem, muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um muitos serão feitos justos' [Romanos 5:19]. [...]
Tendo a lei natureza sido excluída pela transgressão e quase expulsa do coração humano, o orgulho reinou e a desobediência espalhou-se; então veio essa Lei [de Moisés], para que por seus preceitos escritos fôssemos chamados, e 'toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus' [Romanos 3:19]. O mundo tornou-se sujeito a Ele pela Lei, porque todos foram levados ao julgamento pelas prescrições da Lei, e ninguém é justificado pelas obras da Lei; em outras palavras, porque o conhecimento do pecado vem da Lei, mas a culpa não é remida, a Lei, portanto, que fez todos os homens pecadores, parece ter lhes causado mal.
Mas, quando o Senhor Jesus veio, Ele perdoou a todos os homens os pecados que não poderiam escapar e cancelou o decreto existente contra nós por Seu sangue [Colossenses 2:14]. É isso que Ele diz: Pela Lei abundou o pecado, mas a graça superabundou por Jesus [Romanos 5:20], pois após o mundo tornar-se sujeito, Ele tomou o pecado do mundo, conforme João dá testemunho, dizendo: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo [João 1:29]. Que ninguém se glorie, portanto, em suas obras, posto que ninguém é justificado por suas ações, mas aquele que é justo recebeu um presente, sendo justificado pelo Batismo. É a fé, portanto, que nos torna livres pelo sangue de Cristo, pois é abençoado aquele cujo pecado é coberto e a quem o perdão é concedido [Salmos 32:1] (Epístola 73).
Isaque "sentiu o cheiro das suas vestes" [Gênesis 27:27]. E talvez isso signifique que não somos justificados por obras, mas por fé, porque a fraqueza da carne é um obstáculo às obras, mas o brilho da fé põe o erro que está nas ações do homem na sombra e merece para ele o perdão de seus pecados (Sobre Jacó e a vida feliz, II, 9).
Crê, portanto, que em virtude da fé todos os teus pecados serão perdoados. De fato, leste no Evangelho que o Senhor diz: "A tua fé te salvou" [Mt 9:22, Mc 10:52, Lc 17:19] (Explicação do Símbolo, 6).
Isaque "sentiu o cheiro das suas vestes" [Gênesis 27:27]. E talvez isso signifique que não somos justificados por obras, mas por fé, porque a fraqueza da carne é um obstáculo às obras, mas o brilho da fé põe o erro que está nas ações do homem na sombra e merece para ele o perdão de seus pecados (Sobre Jacó e a vida feliz, II, 9).
Crê, portanto, que em virtude da fé todos os teus pecados serão perdoados. De fato, leste no Evangelho que o Senhor diz: "A tua fé te salvou" [Mt 9:22, Mc 10:52, Lc 17:19] (Explicação do Símbolo, 6).