Antão do Deserto sobre os corpos dos santos

Mas, quando os irmãos estavam pedindo-lhe que ficasse com eles e morresse lá, ele não aceitou por muitas razões, como demonstrou mantendo silêncio, mas especialmente por isso: os egípcios estão acostumados a honrar com ritos funerários, e embrulhar em panos de linho os corpos de homens bons (especialmente dos santos mártires); a não enterrá-los, mas coloca-lo em sofás, e mantê-los em suas casas, com a intenção de honrar os mortos. E Antão frequentemente pedia aos Bispos que dessem comandos ao povo sobre esse assunto. Da mesma forma ensinava o povo e reprovava as mulheres, dizendo 'que essa prática não é lícita nem mesmo santa; pois os corpos dos patriarcas e profetas estão até agora preservados em seus túmulos, e o próprio corpo do Senhor foi colocado em um sepulcro, e uma pedra foi colocada em cima dele e o escondeu até que Ele ressuscitou no terceiro dia'. E assim dizendo, ele demonstrou que aquele que não enterra os corpos dos mortos depois da morte transgride a lei, mesmo sendo eles sagrados. Pois o que é maior ou mais sagrado que o corpo do Senhor? Muitos, assim ouvindo, desde então enterraram os corpos, e deram graças ao Senhor por terem sido ensinados corretamente.

Mas ele, conhecendo o costume, e temendo que seu corpo fosse tratado daquela forma, apressou-se, e tendo se despedido dos monges ocultou-se na montanha onde estava acostumado a permanecer. Depois de alguns meses, sentiu-se doente. Tendo convocado aqueles que estavam lá - eram dois em número que haviam permanecido na montanha por quinze anos -, praticando a disciplina e auxiliando Antão por causa de sua idade, disse-lhes: 'Eu, como está escrito, vou para o caminho dos pais, pois percebo que estou sendo chamado pelo Senhor. Sejam vigilantes e não destruam sua longa disciplina, mas, como se estivessem começando agora, preservem cuidadosamente sua determinação. Vocês sabem que os demônios são traiçoeiros, o quanto são ferozes, mas o quanto possuem pouco poder! Portanto, não os temam, mas sempre respirem Cristo e confiem Nele. Vivam como se morressem diariamente. (...) Se possuem algum cuidado de mim e pensam de mim como um pai, não deixem que meu corpo seja levado ao Egito, para que não me coloquem alegremente nas casas, pois entrei na montanha para evitar isso. Vocês sabem que sempre repreendi aqueles que possuem esse costume, e os exortei para que cessem com isso. Enterrem meu corpo, portanto, e o escondam embaixo da terra vocês mesmos, e que minhas palavras sejam observadas por vocês que ninguém mais saiba o local. Na ressurreição o receberei incorrupto do Senhor. Dividam meus vestuários. Para Atanásio, o Bispo, deem uma pele de carneiro e a roupa que estou vestindo (a qual ele mesmo me deu nova, mas envelheceu comigo). Para Serapião, o Bispo, deem a outra pele de carneiro, e mantenham a roupa de pelos vocês mesmos. De resto, passai bem, meus filhos, pois Antão está indo embora, e não estará mais com vocês'.

(..) Eles, posteriormente, de acordo com seu comando, o embrulharam e enterraram, escondendo seu corpo debaixo da terra. E até hoje ninguém sabe onde está enterrado, exceto aqueles dois. Mas cada um que recebeu uma de suas vestes a guardou como precioso tesouro. Pois mesmo olhar para elas é como se fosse contemplar Antão, e aquele que as usa parece com alegria suportar suas admoestações (Vida de Santo Antão, narrado por Atanásio de Alexandria).