Agostinho sobre as tradições eclesiásticas

Com relação a outras coisas que mantemos pela autoridade, não da Escritura, mas da tradição, e as quais são observadas ao redor do mundo todo, pode-se entender que elas são mantidas como aprovadas e instituídas ou pelos próprios Apóstolos ou por Concílios plenários - cuja autoridade na Igreja é bastante útil -, isto é, a comemoração anual, por solenidades especiais, da morte, ressurreição e ascensão do Senhor, e a descida do Espírito Santo do céu, e qualquer outra coisa que seja observada por toda a Igreja onde quer que esteja estabelecida. (...) Há outras coisas, no entanto, que variam de acordo com lugares e países.... A respeito dessas coisas e de todas as observâncias que variam, há liberdade de aceitá-las ou não, de acordo com sua escolha (Carta a Januário).

Esse costume [de não rebatizar hereges e cismáticos], veio, como suponho, da tradição - assim como tantas outras práticas não encontradas em seus escritos nem nos Concílios de seus sucessores, mas as quais, porque são guardadas por toda a Igreja em todo lugar, acreditamos que são ordenadas e transmitidas pelos próprios Apóstolos. (Sobre o Batismo, 2, 7, 12).

"Os Apóstolos", de fato, "não deram prescrições sobre a matéria". Mas o costume, que é oposto a Cipriano, pode ser considerado como tendo origem na tradição apostólica, assim como há muitas coisas que são observadas por toda a Igreja, e desse modo são justamente tidas como recomendadas pelos Apóstolos, e no entanto não são mencionadas em seus escritos (Sobre o Batismo, 5, 23, 31).

Nos livros dos Macabeus lemos sobre sacrifícios oferecidos pelos mortos. No entanto, mesmo que isso não fosse lido em lugar algum das antigas Escrituras, não é pequena a autoridade - que nesse uso é clara - de toda a Igreja, ou seja, que nas orações do sacerdote oferecidas ao Senhor Deus em seu altar, a lembrança dos mortos também tem seu lugar (O cuidado devido aos mortos, 3).