Gregório de Nissa: o batismo deve nos transformar

É evidente que a transformação que nos torna melhores acontece com o desaparecimento das tendências más da nossa natureza. Portanto, se, como diz o Profeta [Is 1,6], depois de lavados com a água sacramental e extirpados de nossas maldades, tornamo-nos melhores e somos transformados no sentido do melhor. Se, ao contrário, o batismo se aplica somente ao corpo sem que a alma seja das imundícies provocadas pelas paixões e se a vida segue à iniciação batismal permanece idêntica àquela vida anterior de não-batizados, por muito atrevidos que sejam meus propósitos, eu afirmarei sem rodeios: neste caso, a água é somente água, pois de modo algum se manifesta no ato realizado o dom do Espírito Santo, quando não somente insulta a imagem divina que traz em si pelo vício vergonhoso da cólera ou pela paixão da avareza, pelo orgulho, pela inveja e pela arrogância desdenhosa, mas persistem ainda inalteradas no homem as ganâncias provenientes da injustiça, e a mulher que adquiriu no adultério continua depois disso servindo aos seus prazeres.

Se estas e outras maldades semelhantes se acham na vida do batizado antes e depois disso, não sei ver qual mudança nela tenha acontecido, pois estou vendo depois o mesmo que já vi antes. Nesse caso, aqueles que sofreram injustiça, ou foram vítimas de calúnias ou despojados de seus bens, não veem tampouco, no que lhes diz respeito, a menor mudança daquele que foi batizado. Não ouviram dele tampouco aquela declaração de Zaqueu: "Se em alguma coisa defraudei alguém, lhe restituirei quatro vezes mais" [Lc 19,8]. (...) Aquele que permanece nas mesmas condições de antes e que, em seguida, se vangloria da transformação realizada nele pelo batismo, que o tornou melhor, ouça as palavras de Paulo: "Se alguém acredita ser alguma coisa, enquanto nada é, engana a si mesmo" [Gl 6,3]. Porque o que tu não te tornaste, tu não o podes ser (A Grande Catequese, XL).