Tendo visto isso tudo, e também depois que me iniciei nos mistérios e examinei as religiões de todos os homens, instituídas por eunucos efeminados, encontrando entre os romanos aquele que eles chamam de Júpiter Laciar, que se compraz em sacrifícios humanos e no sangue dos executados; que Diana, não longe da grande cidade, exigia o mesmo tipo de sacrifícios; por fim, que numa parte um demônio, e em outra, outros se entregavam em perpetrar iniquidades semelhantes, entrando em mim mesmo, comecei a perguntar-me de que modo ser-me-ia possível encontrar a verdade. Em meio às minhas graves reflexões, caíram-me casualmente nas mãos algumas Escrituras bárbaras, mais antigas que as doutrinas dos gregos e, se considerarmos os erros destes, são realmente divinas. Tive que acreditar nelas, por causa da simplicidade de sua língua, pela maturidade dos que falam, pela fácil compreensão da criação do universo, pela previsão do futuro, pela excelência dos preceitos e pela unicidade de comando do universo. Com a alma ensinada pelo próprio Deus, compreendi que a doutrina helênica me levava para a condenação; a bárbara, porém, livrava-me da escravidão do mundo e me afastava de muitos senhores e tiranos infinitos. Ela nos dá, não o que não tínhamos recebido, mas o que, uma vez recebido, o erro nos impedia de possuir (Discurso contra os Gregos, Cap. 29).