Com efeito, estávamos indagando como o único corpo de Cristo vivifica toda a natureza dos homens que têm fé, distribuído a todos sem Ele mesmo ser diminuído. Talvez, pois, estejamos próximos da provável explicação. Com efeito, se a substância de todo corpo depende do alimento, e este consiste na comida e na bebida, e na comida está o pão e, na bebida, a água misturada com vinho; e se, por outro lado, como se explicou anteriormente, o Verbo de Deus, sendo, ao mesmo tempo, Deus e Verbo, se misturou com a natureza humana, ao entrar em nosso corpo, não imaginou para a natureza uma nova forma de existência, mas deu a este corpo o meio de subsistir no ser pelos procedimentos habituais e adequados, conservando sua substância mediante a comida e a bebida, e esta comida era o pão.
No que nos diz respeito, como se disse já muitas vezes, quando se vê o pão, de algum modo está vendo o corpo do homem, porque o pão, penetrando no corpo, se converte no corpo mesmo, assim também aqui, o corpo no qual Deus se encarnou, recebendo o alimento do pão, se identificava de certo modo com o pão, pois como se disse, o alimento se transforma na natureza do corpo. Com efeito, naquela carne se reconheceu a característica própria de todo homem, a saber: que também aquele corpo era sustentado pelo pão. Mas este corpo, em razão da inabitação do Verbo de Deus, foi transformado e elevado à dignidade divina. Portanto, nós agora cremos com razão que o pão santificado pelo Verbo de Deus se transforma no corpo do Verbo divino.
Pois este corpo era pão em potência e se santificou com a presença do Verbo, que ergueu sua tenda na carne. Portanto, como o pão depois da transformação naquele corpo foi elevado à potência divina, assim também aqui temos o mesmo resultado. No primeiro caso, a graça do Verbo santificou o corpo que subsistia por força do pão e que, de certo modo, era pão ele mesmo; da mesma maneira no presente caso, o pão, segundo a palavra do Apóstolo, "é santificado pelo Verbo de Deus e pela oração", mas não se converte no corpo do Verbo por via da alimentação, mas é transformado imediatamente em seu corpo em virtude do Verbo, como o mesmo Verbo disse: "Isto é meu corpo" (A Grande Catequese, XXXVII, 8-10).