Clemente de Alexandria sobre a interpretação de João 6

Pois a mesma Palavra é fluida e suave como leite, ou sólida e compacta como carne. E detendo-nos neste ponto de vista, podemos considerar a proclamação do Evangelho, que está universalmente difundido, como leite; e como carne a fé, pela qual a instrução é compactada num fundamento, que, sendo mais substancial que o ouvir, é semelhante à carne, e a própria alma assimila nutrição deste tipo. Noutro lado o Senhor, no Evangelho segundo João, menciona isto mediante símbolos, quando disse: "Comei a minha carne e bebei o meu sangue" [João 6:34]; descrevendo claramente por metáfora as propriedades bebíveis da fé e da promessa, por meio da qual a Igreja, como um ser humano composto de muitos membros, é refrescada e cresce, é ligada e compactada por ambas – pela fé, que é o corpo, e pela esperança que é a alma; como também o Senhor de carne e sangue. Pois na realidade o sangue da fé é a esperança, na qual a fé é sustentada como por um princípio vital.

(...) Mas não estais inclinados a entendê-lo deste modo, mas talvez mais geralmente. Ouvi-o também da seguinte maneira. A carne figurativamente representa para nós o Espírito Santo; pois a carne foi criada por Ele. O sangue nos aponta a Palavra, pois como rico sangue a Palavra foi infundida na vida.

(...) Assim, de muitas maneiras o Verbo é figurativamente descrito, como alimento, e carne, e comida, e pão, e sangue, e leite (O Pedagogo, 1, 6).