Agostinho sobre os sacramentos

Sob a servidão do sinal vive quem faz ou venera uma coisa simbólica sem saber o que ela significa. Mas quem faz ou venera a um signo útil instituído por Deus, cuja virtude e significado entende, não venera o visível e transitório, mas Aquele a quem todos esses signos se referem. Ora, tal homem revela-se um ser espiritual e livre, até o do tempo da servidão do Antigo Testamento. Pois nesse tempo ainda não era conveniente ser desvendada a razão desses signos a espíritos carnais, visto que deveriam eles estar submetidos a tal jugo. Portanto, espirituais foram os patriarcas e os profetas e todos os personagens do povo de Israel por quem o Espírito concedeu-nos o auxílio e consolo das Escrituras. Em nosso tempo, quando pela ressurreição de Nosso Senhor brilhou claríssimo o signo de nossa libertação, não estamos mais oprimidos pelo pesado encargo de submetermos àqueles signos primitivos, porque agora entendemos. Pois o mesmo Senhor e os ensinamentos dos apóstolos transmitiram-nos não mais uma multidão de sinais, mas um número bem reduzido. São fáceis de serem celebrados, de excepcional sublimidade a serem compreendidos, e a serem realizados com grande simplicidade. Tais são: o sacramento do batismo e a celebração do corpo e sangue do Senhor. Quando alguém os recebe, bem instruído, sabe a que se referem e, por conseguinte, venera-os com liberdade espiritual e não com servidão carnal. Ora, seguir a letra e confundir os sinais com aquilo que os sinais significam indica fraqueza e servidão. Interpretar os sinais erradamente é o resultado de estar sendo conduzido pelo erro (Da doutrina cristã, III, 9).